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Percepções e companhia…

“O pessimista vê dificuldades em cada oportunidade

O optimista vê oportunidades em cada dificuldade.

Winston Churchill

 

 

O Cérebro é uma máquina complexa e poderosa, que entre outras coisas funciona como um filtro, capaz de analisar constantemente uma variedade de percepções conscientes e inconscientes, mantendo-nos alerta e informados acerca da realidade interna e externa.

Por exemplo, enquanto lê este artigo, milhares de estímulos impregnam os seus sentidos a cada minuto. No entanto se estiver concentrado na leitura, nem se dará conta da grande maioria deles. Desta forma, o seu Foco (neste caso a atenção que deu ao texto), alterou temporariamente a percepção que tem da realidade.

Sugiro que suspenda a leitura por uns segundos e que dirija o seu foco para os estímulos ao seu redor (sons, cheiros, imagens, sensações)…

Se fez o exercício, mudou novamente o seu Foco Atencional (é assim que funciona o processo de Atenção Selectiva) e desta forma alterou novamente a percepção da realidade. Ou seja, afinal tem a capacidade de alterar a forma como vê o Mundo ao seu redor.

Provavelmente já todos vimos uma árvore queimada depois de um incêndio… no entanto, enquanto alguns de nós se focam no tronco queimado e fumegante, outros irão focar-se na floresta verdejante que sobreviveu à sua volta. Isto acontece porque os processos de focalização da atenção dependem também de mecanismos emocionais, e estes processos estão por sua vez dependentes da nossa história de vida, da educação, e daquilo que nos ensinaram a valorizar. Ou seja, os outros podem influenciar a forma como vemos e interiorizamos o que nos rodeia.

Pense… concerteza já passou por fases em que algo de tão negativo aconteceu… que por isso até parece que tudo é negativo. Se também é daquelas pessoas que na maioria das situações, passa 90% do tempo preocupado com a vida… pare para pensar, faça uma análise, e pondere bem se de facto 90% dos aspectos da sua vida serão motivo de preocupação… é que enquanto dá atenção ao que o pode bloquear, travar ou até puxar para trás, não percebe nem se dá conta de como poderá alterar a sua vida se prestar atenção aquilo que o pode fazer avançar (os pedais da bicicleta de nada servem se não pedalar).

É nestas alturas que se percebe para que coisas orienta a sua percepção… se 10 % dos aspectos da sua vida de facto necessitam ser alterados, mas, porque se foca neles, eles transformam-se em 90% de tempo passado a preocupar-se, então a sua percepção interior tem uma orientação negativista (pessimista), e desta forma a sua realidade é encarada com desesperança, frustração, desorientação, tristeza e impotência emocional… para si quase tudo será encarado como um obstáculo, porque o seu foco atencional está dirigido para aspectos negativos (ou que são vividos como negativos). A sua primeira reacção a qualquer coisa será sempre de defesa (e portanto de retracção e bloqueio).

Como esta percepção está associada a uma bússola que o irá orientar no futuro, a sua bússola (e não a realidade) ficará desorientada, não sendo por isso capaz de lhe indicar com precisão qual o caminho certo, “não consigo parar, pensar e encontrar uma solução”.

Um bom exemplo disto é quando diz/pensa, perante determinado obstáculo “Eu não consigo”… “Eu não consigo”, é uma afirmação que tem grau de parentesco bastante próximo com o medo! Normalmente são companheiros de viagem inseparáveis e alimentam-se mutuamente…

 

fig1

 

 

Quando pensa/diz eu não consigo“, “eu não quero“, “isso não é para mim“, “eu não nasci com sorte“, acontecem 2 coisas: o seu cérebro é como um «gravador». Todos esses pensamentos irão ficar arquivados para memória futura. Ao ficarem arquivados, serão provavelmente utilizados contra si sempre que se deparar com futuros obstáculos; por outro lado, o cérebro funciona criando algoritmos que o ajudarão a tomar decisões de acordo com a informação arquivada. Ou seja, sempre que se depara com as situações, o cérebro baseia a sua decisão num cálculo de probabilidades; “se eu fizer isto, provavelmente acontece aquilo”, “como sempre foi assim, provavelmente voltará a ser”.

 

É aqui que a forma como encara a realidade (aquilo que valoriza) interfere no processo de tomada de decisão, e por isso a Lupa mental condiciona (aumenta ou diminui) o grau probabilidade dos acontecimentos futuros, porque também pode interferir e condicionar os processos motivacionais:

 

fig 2

Não há ninguém totalmente optimista ou pessimista. Existem sim pessoas tendencialmente optimistas e outras tendencionalmente pessimistas. Depende bastante do filtro da perceção com que se analisa os acontecimentos. Se o filtro ampliar os acontecimentos negativos, será alguém tendencialmente pessimista. Se ampliar os acontecimentos positivos, será tendencialmente optimista.

Tal como no caso das crianças que têm medo do escuro e esse medo parece desaparecer quando se acende a luz (não havia nada no escuro, apenas o medo que a criança lá colocava), também aqueles medos que o impedem de avançar (apenas porque a seu filtro está distorcido), o tornam fechado, inibido, restringem a sua forma de pensar, de estar e de agir, parecem desaparecer quando diz/pensa para si mesmo eu tenho a certeza que consigo!”, quebrando assim a percepção ampliadora de tudo o que é vivido e sentido como negativo, que no fundo foi o que impediu sempre que as coisas acontecessem.

Rolando Andrade

Psicólogo Clínico

Psicoterapeuta

Psicólogo do Desporto

Cédula profissional O.P.P 4365