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Estar desconfortável na zona de conforto

Provavelmente já deu por si a pensar ou a dizer coisas como “sempre foi assim”, “não consigo mudar, nem vale a pena tentar, “já tentei emagrecer, mas não consigo”, “a minha vida vai ser sempre assim”. Se pensar ou verbalizar a sua opinião acerca de si nestes termos, significa que provavelmente se retirou para a sua «zona de conforto».

A «zona de conforto» é para muitos um lugar de segurança, aconchego e comodidade; um local, uma pessoa, uma determinada situação ou forma de Ser e de estar que nos permite aliviar (pelo menos temporariamente) uma angústia ou uma dor mental que parece mais forte e resistente que nós. “Quando me sinto ansioso(a) vou apanhar ar”; “nem quero pensar nesse problema“; “eu gostava de fazer isso, mas tenho medo”; “esta situação já se arrasta há tanto tempo que eu fui deixando andar”. Quem nunca usou expressões deste género? São todas sinais de fuga para a zona de conforto.

O maior incómodo (mesmo que não nos demos conta disso) da zona de conforto, geradora de comodidade momentânea, é que essa comodidade tem tendência a transformar-se em acomodação. E dessa acomodação a uma fuga que nos afasta daquilo que somos, cresce insidiosamente o desconforto da zona de conforto.

Problemas que se arrastam interminavelmente, vidas que parecem bloqueadas, a inacção, o desespero, os sentimentos desagradáveis que parecem doer e fazer sofrer cada vez mais, incapacidades que se agravam, a auto-estima que parece diminuir até desaparecer, são muitas vezes consequência de fugas para zonas de conforto emocional e comportamental que em determinados momentos chave da nossa vida nos criam a ilusão de aliviar o sofrimento. Com o passar do tempo, é como se a vida tivesse sido colocada em «pausa» e nos tivéssemos esquecido de carregar novamente no botão «play».

Embora nos crie uma sensação ilusória de segurança, comodidade e acolhimento, a fuga constante para a nossa zona de conforto é quase sempre a longo prazo tóxica e paralisante, geradora de impasses emocionais e comportamentais e cheia de becos sem saída, claramente sufocantes e notoriamente desconfortáveis.

O que nos leva a fugir?

O motor da fuga para a zona de conforto é na maioria das vezes o medo, uma sensação de receio ou ameaça. Quando não temos capacidade ou coragem para o enfrentar, quase sempre fugimos para o evitar. Fugimos para a zona de conforto. Quando deixamos que a nossa vida seja conduzida pelo medo não crescemos.

Somos como um puzzle sem solução, porque se destruíram ou perderam algumas peças.

Todos temos potencial de crescimento e mudança dentro de nós. Por vezes as circunstâncias ajudam-nos a descobrir isso sozinhos. Outras vezes temos de enfrentar um dos nossos maiores medos: descobrir quem somos de verdade, abrindo-nos para outras pessoas (amigos ou profissionais) que nos apoiem num percurso de auto-descoberta e de enfrentamento dos medos que acabam por nos deixar desconfortáveis… na zona de conforto.

 

Rolando Andrade

Psicólogo Clínico

Psicoterapeuta

Cédula profissional O.P.P 4365