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Tristeza não é Depressão

 

 

Muitas vezes o que leva as pessoas a procurar apoio é a dor, seja ela de natureza física ou mental. Esta é uma espécie de sinal de alerta que nos indica que alguma coisa não está de acordo com aquilo que seria expectável ou natural em nós.

Apesar de incómoda a dor mental, tal como inúmeros acontecimentos da vida, participa no nosso desenvolvimento e é uma experiência universal. No entanto, sendo uma coisa natural, a verdade é que não estamos preparados para a vivenciar como tal.

A sociedade prepara-nos para o sucesso, para a felicidade, mas não nos prepara para sofrer o sofrimento… para sentir a tristeza. Daí toda a panóplia de mediatismos e imediatismos, do excesso de informação, de soluções rápidas, de coisas prontas a comer, a usar e a fazer que servem apenas como distractores ou paliativos e que nos impedem muitos vezes do encontro com aquilo que é natural em nós, de sermos quem somos, com as alegrias e tristezas próprias e naturais do Ser humano. Em algumas situações, é precisamente esta fuga de nós mesmos que é geradora de sofrimento.

Com a crescente vulgarização no senso comum da linguagem técnica, é natural que em inúmeras situações haja confusão de conceitos. É frequente ouvirmos: “hoje acordei com uma depressão”; “não sei o que tenho, acho que estou com uma depressão”; “vou sair com os amigos para ver se me passa esta depressão”. Mas de facto, tristeza ou mal estar não é Depressão. A tristeza é algo natural, que todos os seres humanos experienciam como consequência, na maioria dos casos, dos seus desejos não concretizados.

É pois natural, e podemos dizer saudável por vezes sentirmos tristeza. Deixa de ser natural quando se transforma numa vivência persistente. Por isso, a Depressão é algo de mais potente e severo, na maioria das vezes limitante ou incapacitante. A tristeza é apenas um dos inúmeros sintomas das várias tipologias da Depressão.

As pessoas deprimidas, muitas vezes sentem uma dor inominável. “Não sei como descrever o que sinto”; “sinto tanta coisa, que nem sei o que sinto”; “não tenho gosto por nada”, “vejo tudo de forma negativa” são expressões que todos, no dia a dia, já ouvimos das pessoas em depressão. É como se esta dor mental, por ser tão imensa e angustiante, não pudesse ser simbolizada nem descrita. Daí algumas destas pessoas referirem “sentir um vazio” dentro de si. Para estas a dor mental pode ser incapacitante. Na depressão é frequente a dor mental converter-se em sintomas físicos. Também há situações em que as pessoas encontram antídotos para o sofrimento, como por exemplo o abuso de substâncias, que servem apenas para camuflar uma dor que não pode ser pensada, sentida ou sofrida.

Não ter o que nos sentimos legitimados a ter (afectos ou coisas materiais), não aceitar que às vezes não se pode ter o que se deseja, não viver de acordo com aquilo que se é, ou viver de acordo com aquilo que não se é, podem ser geradores de tristeza e em última análise de depressão. Mas é conveniente não tomar a parte pelo todo (como quem confunde a febre com a gripe). A Depressão é algo de natureza abrangente e multifactorial, que pode manifestar-se através de um sem número de sintomas (e por isso mesmo manifestar-se de várias formas) e que afecta a vida pessoal, profissional, familiar e social das pessoas afectadas.

A Depressão é por isso sempre vivida como algo de ameaçador. É neste contexto que a psicoterapia se revela fundamental como estratégia terapêutica; através desta abordagem podemos encontrar as raízes mais profundas do sofrimento, dar-lhe um nome e um significado, pensá-lo e encontrar as vias de acesso a um maior conhecimento de si mesmo, promotor de maior abertura aos outros e a novas experiências e a uma visão mais positiva, transformadora e saudável acerca do mundo.

 

 

 

 

 

Rolando Andrade

Psicólogo Clínico

Psicoterapeuta

Cédula profissional O.P.P 4365